“But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your
feet;
Tread softly because you tread on my
dreams."
W. B. Yeats
Seria preciso que te pedisse desculpa com palavras não-ditas.
Que a gravidade nos puxasse para fora do sistema solar. Ou que, afinal, nada
disto tivesse acontecido: que um de nós não tivesse nascido ou que em algum
momento tivessemos virado por uma ruela à direita em vez de virar à esquerda e nunca
nos tivessemos encontrado. Seria preciso que as leis que nos regem fossem
outras. Porque dentro do nosso cósmico mundo, sei bem que nunca me poderás
perdoar. Não tivesses tu dado tudo o que tinhas - e era tão pouco o que tinhas, e não estarias
agora com essa ausência em forma de coração. E porque o pouco que tinhas foi o
todo que me deste que hoje não há nada com que eu te possa compensar. Caminhei
desastradamente sobre ti e nunca olhei para trás. Agora, quando olho para trás
já é tarde porque eu já sou outra pessoa e os teus sonhos são cinza pulverizada
nas minhas mãos esqueléticas. Lamento, mais do que tudo, esse momento
infinitamente pequeno em que decidi virar as costas, esse momento quando –
acredito agora - ainda podia mudar tudo.
Hoje aqui estou a escrever um texto sem propósito. Não tenho nada a dizer-te
porque não posso pedir desculpa com palavras que não se dizem e a Terra ainda
gira em volta do Sol. Hoje és tu quem caminha sobre o meu futuro, domina o meu
futuro. Mas eu não tenho medo, confio-te tudo, principalmente os meu sonhos.